O que é Autossabotagem e como superá-la

Há momentos na vida em que reconhecemos que devemos mudar e que estamos prontos para dar um novo salto: seja lançarmo-nos em um novo projeto, em um novo empreendimento, numa nova relação afetiva, mudar de cidade, de emprego, dentre outros momentos que cabem à mudança. Porém, aos poucos, nós nos pegamos cometendo erros, e caindo em armadilhas criadas por nós mesmos. Isso se chama autossabotagem.

A autossabotagem ocorre quando, apesar de querermos mudar, nosso inconsciente não nos permite. Isso acontece, pois em nosso íntimo, escutamos e obedecemos às ordens geradas por nosso inconsciente sem nos darmos conta disso. Estas ordens são intrínsecas e geradas por frases que escutamos inúmeras vezes quando crianças. Cada família tem a sua. Um exemplo é quando conhecemos alguém estranho. Desde pequenos, escutamos repetidamente de nossos pais, para não conversarmos com pessoas estranhas. Então, cada vez que conhecemos alguém que seja estranho a nós, é como se o nosso cérebro de forma inconsciente dissesse de um lado “Abra-se. Permita-se conhecer” e nos advertisse do outro, “Cuidado. Afaste-se”.

Num primeiro momento os desafios nos encorajam, e por isso nos atiramos em novas experiências e estamos dispostos a enfrentar tudo o que vem. No entanto, quando surgem as primeiras dificuldades, que fazem com que nos sintamos incapazes de lidar com aquilo que estamos vivenciando, percebemos em nós a presença desta parte inconsciente que discordava que arriscássemos em mudar (Cuidado. Afaste-se).

Cada vez que duvidamos de nossa capacidade de superar obstáculos, despertamos, e consequentemente cultivamos, um sentimento de covardia interior que bloqueia nossas emoções e nos paralisa por completo. O medo da mudança se torna bem maior do que a força para mudar. Por isso, enquanto nos iludirmos com soluções irreais e tivermos resistência em rever nossos erros e aprender com eles, estaremos totalmente bloqueados. Porém, dificilmente percebemos que nós nos autossabotamos. Não é fácil perceber que a traição começa em nós mesmos. Acontece que nós iludimos quando não lidamos diretamente com a raiz do problema em questão.

Em nossa ilusão, tudo parece ótimo, a princípio. Atribuímos ao tempo e aos outros as soluções mágicas de nossos problemas. É nossa autoimagem que gera sentimentos e pensamentos em nosso íntimo. Podemos fazer um exercício conosco para conseguir identificar as questões da nossa autoimagem. Porém, não se trata de uma tarefa fácil, justamente porque resistiremos até o fim em olhar para o nosso lado mais “sombrio”. Mexer nele, não nos parece nada atrativo. Porém, uma coisa é certa: tudo o que ignoramos sobre esta parte “sombria”, cresce silenciosamente, e um dia virá à tona. Virá com tanta força, que não será possível deter a sua ação. Portanto, é a nossa autoimagem que dita nosso destino.

Um exemplo: pense em algo que você deseja muito! Algo que vá tomar boa parte do seu tempo e será cansativo, mas só assim para que você possa conseguir obter o retorno esperado. Uma das palavras que mais se repetirá será “sacrifício”. Para conseguir, você precisa sacrificar o tempo com a família, com os amigos, com o (a) namorado (a), pois sem sacrifício você não alcançará o sucesso. Então, vem a pergunta: quem é que, satisfatoriamente, busca sacrificar-se?

Observe que nessa ideia de que, para conseguir algo deve-se existir muito sacrifício (namorado (a), família, lazer e etc.), já existe empecilho suficiente para dificultar o desejo de alcançar o objetivo almejado. O que se dissemina com este pensamento é que virá o desprazer, o isolamento, o cansaço, e isso acabará afastando as pessoas que estão focadas em algo, daqueles que amam, de suas alegrias, como se só assim pudessem conquistar o que desejam.

O cérebro tem como finalidade principal a autopreservação e a preservação da espécie e, portanto, identifica “sacrifício” como algo ameaçador. Por essa razão, eleva o nível de estresse, e por fim, isso acaba também bloqueando as capacidades necessárias para um bom desempenho, seja criando um estado de confusão, seja criando um branco na hora de uma avaliação, ou seja, criando um conflito entre fazer o que gosta versus sacrificar-se para conseguir o que pretende.

Por outro lado, numa visão mais lógica, analise com calma: se a ideia é de que só com sacrifício consegue-se o resultado esperado, inconscientemente você buscará todas as dificuldades possíveis e inimagináveis para se sacrificar, tornando a sua trajetória em algo penoso, distanciando-se cada vez mais de seus objetivos. Como ficar disciplinado e organizado para sofrer? Isso não faz o menor sentido. Porém, como dito anteriormente, uma das funções mais importantes do cérebro, em particular no humano, é a preservação da espécie e a busca do prazer. Partindo deste princípio, entendemos a razão pela qual o esforço para adquirir não funciona. Para o cérebro esforço tem a conotação de dificuldades e desprazer. O simples pensamento de executar qualquer coisa penosa diminui drasticamente nosso desempenho. A sensação é de subir uma imensa montanha todos os dias. Esse tipo de sintoma, no contexto da aprendizagem, é responsável pelo desânimo que compromete a capacidade de compreender, lembrar e aprender. A motivação é a força motriz que nos impulsiona de maneira eficiente para a obtenção de resultados. Tudo que repetimos e vivenciamos com frequência, torna-se um padrão. E, o padrão de sacrifício não é nada animador. Para mudar esse paradigma desagradável e limitante, é preciso criar um recurso que o conduza a um estado mais estimulante.

O que fazer então para mudar essa condição estabelecida agindo de forma mais coerente e eficiente em relação aos resultados que deseja?

Uma maneira de mudar é, na próxima vez que você se apegar a frases prontas, anote-as! Veja o quanto elas se repetem e quando. Elas revelam a sua autoimagem e são responsáveis por seus comportamentos repetitivos de autossabotagem. Lembre-se: a autoimagem quando gera sentimentos desagradáveis, temos a oportunidade de trabalhá-las, modificá-las para melhor, e para o nosso bem-estar, ao invés de ficarmos nos sentindo mal e nada fazer para sairmos deste marasmo. O autoconhecimento é muito rico, válido e imprescindível para olharmos para nós e vermos o que temos de assimilar e melhorar, para lidarmos da melhor forma com a vida e com o que ela tem de bom a nos oferecer, e olhar para os obstáculos como questões a serem resolvidas, e não com o algo inatingível.

Outra sugestão é mudar suas referências. Reprograme-se de forma eficiente. Ao invés de pensar e dizer que é preciso muito sacrifício, pense e diga que decidiu ter dedicação naquilo que se propôs a fazer. Isso o coloca no controle da situação porque passa a ser uma decisão (escolha) e não uma necessidade (obrigação = sacrifício). Além do que, dedicar-se (oferecer-se com afeto), dá ao cérebro um estímulo de prazer. No início da mudança de paradigma, ocorrerá certo conflito interno, afinal, mudar de opinião é mais simples do que mudar de atitude. Contudo, com um pouquinho de policiamento você conseguirá desenvolver outro padrão de pensamento mais compensador. Assim, quando vier a sua mente a ideia de sacrificar-se, inverta para a ideia de DEDICAR-SE.

Outro elemento que produz bloqueios é o hábito de utilizar palavras opostas ao que se deseja. As palavras afetam nossa neurologia, além do mais, o cérebro age com base no objetivo a ser atingido. Se você costuma utilizar palavras como “é difícil”, “não consigo”, “isso não é para mim” e etc., está dando ao seu cérebro um caminho a ser seguido. Para satisfazer o seu objetivo estabelecido através de sua linguagem, ele buscará recursos para consumar o que é entendido como algo a ser realizado (não conseguir, dificuldades e etc.).

É importante abandonar as ideias irracionais, evitando ir em direção contrária a seus objetivos. As coisas e situações podem ter um nível de dificuldade, mas isso não é impossibilidade. Quanto mais dedicação houver, mais facilidade, mais alegria e prazer. A região do cérebro responsável pela sensação de recompensa, quando ativadas por ideias e atitudes animadoras, contribuirá mais para a produção de substâncias dopaminérgicas responsáveis pela motivação, satisfação e prazer.

Lembre-se de mais uma coisa: seu único concorrente é você mesmo! Não se preocupe com os outros. Ocupe-se de você. Mantenha seu foco, que você chegará no lugar que escolher seguir. Assim:

• Policie seus pensamentos de derrota, porque eles reduzem sua autoestima e como consequência comprometem todo o seu desempenho e ânimo;

• Disciplina não é um ato e sim um hábito;

• Procure auxílio psicológico, se assim achar necessário. Não fuja de enfrentar os seus anseios e medos. Vá em frente e busque o seu eu interior. Traga o até você e acabe com o que não lhe faz bem!

Desta forma, tenho certeza que, se você estiver atento aos paradigmas limitantes para eliminá-los e alinhar seus desejos com suas ideias, terá todas as chances de concretizar o que almeja.

Um abraço para todos.

Alicia Goldsztejn | Psicóloga e Consultora de Carreira da equipe Paula Dias Coach.

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